Apresentação Painel das A.P. Mara Rosane Noble Tavares Luciane Magalhães Corte Real Resumo Nos dias atuais, as tecnologias estão presentes e são necessárias no dia a dia das pessoas. O uso social que os sujeitos fazem da tecnologia implica em uma preocupação crescente em inseri-las na Educação. Esse trabalho objetiva apresentar, por meio de um estudo de caso, o uso das Arquiteturas Pedagógicas em ambientes informatizados para suporte às aprendizagens, apoiadas por Teorias Sócio-Interacionistas. O presente estudo apresenta ações pedagógicas que utilizam Projetos de Trabalho, com base na proposta Sócio-Construcionista, para a construção dos conhecimentos, letramento digital e cidadania. Ações orientadas por um planejamento dirigido e uma prática intencional, mediadas pelo uso do computador, que levam em conta como o aluno aprende e, como este aprende melhor de forma colaborativa. Planejamento e prática que, por consequência, transformam a rotina escolar com o uso dos recursos do Laboratório de Informática, recentemente implantados nas escolas, contribuindo, dessa forma, para a efetiva inserção da tecnologia no espaço, tempo e cultura escolares. Palavras-Chave: Tecnologia; Educação; Arquitetura; Projeto; Informática Introdução Este artigo é resultado de uma investigação junto ao Laboratório de Informática (LABIN) em uma Escola da Rede Pública Estadual do Rio Grande do Sul. Foi realizado projetos e atividades inspiradas em Arquiteturas Pedagógicas com oito turmas de séries iniciais. Neste trabalho apresentaremos, sob a forma de estudo de caso, um Projeto de Trabalho chamado “Caderno Virtual”, desenvolvido com uma quarta série do Ensino Fundamental. As Arquiteturas Pedagógicas são propostas com o objetivo de desafiar o processo de aprendizagem, entretanto a maioria dos professores não possui uma ideia clara sobre o que são e como estas podem ser utilizadas na construção das aprendizagens com seus alunos. Dessa forma, a organização do trabalho partiu da seguinte questão: Como as Arquiteturas Pedagógicas influenciaram, e/ou podem influenciar, no processo ensino/aprendizagem? A observação das interações realizadas na turma escolhida, a analise dos dados obtidos, através dos instrumentos usados durante o desenvolvimento do projeto de trabalho, encaminhou a formulação de alguns objetivos importantes para pesquisa a fim de, primeiro, explicar o que são Arquiteturas Pedagógicas; segundo, analisar os diferentes comportamentos dos alunos diante dos desafios propostos pelo uso do computador; terceiro, relacionar o comprometimento em aprender com a mudança na qualidade dos relacionamentos entre os alunos e entre alunos e professores, e a ligação entre a aprendizagem e o aumento da autoestima; e, por último, identificar em quais situações de ensino/aprendizagem a construção do conhecimento ganha maior significado para o aluno. Referencial Teórico Segundo Papert (1994), ao longo da história, muitos educadores vêm buscando aproximar os métodos de ensino da maneira como a criança aprende. John Dewey (1859-1952) observou que as crianças aprendem melhor quando a aprendizagem faz parte da sua experiência de vida; Freire (1921-1997) defendia que, se as crianças se encarregassem de seus próprios processos de aprendizagem, aprenderiam melhor; Piaget (1896-1980) investigou como acontece o processo evolutivo da inteligência e a influência dos fatores externos e internos, que precisa de tempo para ser acomodada e equilibrada, na aprendizagem da criança; já para Vygotsky (1896-1934), a conversação desempenha um papel crucial na aprendizagem. Com a evolução da tecnologia e seu uso cotidiano, muitos educadores deslocaram o foco, antes centrado no método, para o uso de instrumentos hipermididáticos. Instrumentos como os computadores, a Internet e celulares com câmera, por exemplo, são usados por esses educadores, unindo novas e antigas estratégias, para melhor explorar os usos da tecnologia no processo de ensino/aprendizagem. Carvalho, Nevado e Menezes (2005, p. 2), propõem o termo Arquitetura Pedagógica (AP) para definir esses usos, cunhando um novo conceito que une os instrumentos tecnológicos a diferentes estratégias numa prática pedagógica mais flexível. Segundo os autores, [...] uma combinação de estratégias, dinâmicas de grupo, softwares educacionais e ferramentas de apoio à cooperação, voltadas para o favorecimento da aprendizagem. Essas arquiteturas, independente de sua natureza, usando ou não a tecnologia digital, irão sempre requerer a utilização de objetos de aprendizagem. A concepção adequada desses objetos tem implicações diretas na construção do conhecimento pelos estudantes. Tanto nas ações com uso de tecnologia, como nas ações sem o uso de tecnologia, a AP compreende a produção de um objeto que represente a síntese do trabalho de pesquisa, levantamento de hipóteses, trabalho colaborativo e autoria nas aprendizagens realizadas ao longo do processo, assim como a apresentação dos resultados poderá ser feita com outros recursos, que não os midiáticos, para exposição desses objetos. Entre as teorias pedagógicas, as teorias sócio-interacionistas são as possuem maior número de elementos que dão apoio as APs. Nessas teorias, é consenso que só construindo uma linguagem específica, do nosso meio sociocultural, podemos interagir no e com o meio; as relações sociais transformam radicalmente os rumos do nosso próprio desenvolvimento e a linguagem dá a dimensão social na construção do sujeito psicológico. Ao mesmo tempo em que a cultura e a linguagem influenciam as relações sociais, elas ocupam um papel importante no desenvolvimento intelectual da criança e na qualidade do processo de aprendizagem. (VYGOTSKY; MATURANA, 1998). Para Vygotsky (1991), a linguagem está diretamente relacionada à qualidade das aprendizagens. "A transmissão racional, intencional de experiências e de pensamentos a outrem exige um sistema mediador que, tem por protótipo, a linguagem humana nascida da necessidade do intercâmbio durante o trabalho." (VYGOTSKY, 2001. p. 11) Quando passamos a compreender a língua, podemos nos comunicar e nos entender uns com os outros através da linguagem. Assim, enquanto os alunos aprendiam a língua, juntos modificavam a qualidade da própria linguagem uns com os outros e conferiam novo significado às suas próprias aprendizagens. Os alunos interferiram na aprendizagem uns dos outros, auxiliando os colegas que ainda não dominavam a língua e o meio a dominarem, interagiram juntos dentro de um meio sociocultural específico que é a Internet e (re)construíram, socialmente, uma linguagem com significados e usos específicos para poder usar esse meio. Enquanto interagiram com o meio, transformaram-no para seu uso e se transformaram durante o seu uso, evidenciando o desenvolvimento de novas habilidades e competências intelectuais e sociais. Analisando os conceitos de Zona de Desenvolvimento Real e Proximal, de Vygotsky (1991; 2001). Esses conceitos formam uma zona de diferença entre o que a criança consegue realizar sozinha, Zona Real, e aquilo que, embora ainda não consiga realizar sozinha, é capaz de aprender a fazer com a ajuda de uma pessoa mais experiente, Zona Proximal, o contato entre essas duas zonas gera o desenvolvimento necessário para a construção das novas aprendizagens. A Zona de Desenvolvimento Real é a zona em que a criança é autossuficiente, enquanto que a Zona de desenvolvimento proximal abrange todas as funções e atividades que a criança ou o aluno só consegue realizar se houver ajuda de alguém. Esta pessoa que intervém para orientar a criança pode ser tanto um adulto (pais, professor, responsável, instrutor, etc.) quanto um colega que já tenha desenvolvido a habilidade requerida. O espaço criado entre as duas zonas representa a diferença entre a capacidade da criança de resolver problemas, por si própria, e a capacidade de resolvê-los com ajuda de alguém, gerando uma nova Zona de Desenvolvimento Real. A implicação importante dessa zona intermediária é que “o aprendizado humano é de natureza social e parte de um processo em que a criança desenvolve seu intelecto dentro da intelectualidade daqueles que a cercam” (VYGOTSKY, De acordo com o autor, uma característica essencial do aprendizado é que ele desperta vários processos de desenvolvimento internamente, os quais funcionam apenas quando a criança interage em seu ambiente de convívio. Portanto, aprendizagem leva ao desenvolvimento e o desenvolvimento proporciona novas aprendizagens. A fala funciona como meio adaptativo e de intercâmbio das experiências vivenciadas; o uso do computador e a interação entre os indivíduos permitem o letramento no meio digital, ao mesmo tempo, a socialização das experiências com esse instrumento permite o desenvolvimento real de novas habilidades e competências intelectuais e sociais. É através desse intercâmbio permitido pela fala que um indivíduo colaborará com outro, aproximando o que ainda não sabe daquilo que sabe, para construir novos conhecimentos; a fala permitirá o desenvolvimento necessário à construção das aprendizagens sobre os computadores e o que é possível realizar com eles. O uso dos computadores, ou de qualquer outra tecnologia, contudo, não é capaz de alterar a conduta do ser humano se, esse, assim não o desejar. O que permite a mudança de conduta, frente à própria aprendizagem, mediada por qualquer instrumento, é a interação proporcionada pela linguagem em uma relação de coordenação consensual de comportamentos, isto é, se o indivíduo aceita as condições do outro, este está coordenando uma ação: as coordenações consensuais de comportamentos resultam da convivência, e não haveriam se produzido se não houvesse produzido essa história de convivência (MATURANA, 2001). Todas as ações humanas, práticas ou teóricas, partem do domínio das coordenações consensuais de ações e sua recorrência fundamenta-se através do consenso entre duas pessoas, através da permissão mútua de ações. É por essa razão que Maturana apresenta o “estar na linguagem” como um modo de viver (1998, p. 22). Para compreendermos como o uso social da tecnologia pôde provocar mudanças na rede de conversação das crianças, envolvidas no Projeto de Trabalho Caderno Virtual, alterando sua conduta frente ao trabalho e ao próprio grupo, precisamos diferenciar as emoções envolvidas nas relações sociais, das que envolvem outros tipos de relações, pois as relações humanas são diferenciadas de acordo com a emoção que as fundamenta. O espaço para a criação de uma zona de desenvolvimento proximal e para a coordenação consensual de ações só foi criado, no momento em que oito alunos, que estavam mais adiantados, foram convidados a atuar como monitores, ação que antecedeu a adoção do mini-tutorial e favoreceu uma visível mudança na rede de conversação dos alunos. Esses oito alunos foram orientados, no período anterior ao começo da aula, a auxiliarem, principalmente, aqueles colegas que apresentavam maior dificuldade e que ainda não haviam criado e-mails. Para o Matemático Seymour Papert, cujo trabalho foi fortemente influenciado pelos pressupostos construtivistas de Jean Piaget, que o levaram a adotar uma postura construcionista com relação à aprendizagem em ambientes informatizados, só se pode aprender algo fazendo esse algo. Com isso, abre-se um novo espaço para a aprendizagem, onde a intenção é provocar na criança a posse sobre seu processo de aquisição e interpretação da língua e da realidade, usando-os para realimentar a investigação e experimentação, que o uso do computador exige (PAPERT, 1994). Para o autor (PAPERT, 1988), a melhor aprendizagem é feita quando o aprendiz a assume, e a tarefa do professor é desafiar e encorajar o aluno na busca de uma solução, assumindo o papel como facilitador do processo de construção de aprendizagens. O trabalho com Arquiteturas Pedagógicas dá aos alunos a oportunidade de refletir sobre suas ações de maneira independente; de agir em conjunto com seus pares organizando as informações, com base em suas experiências anteriores, somadas, para resolver o desafio proposto pela máquina, pelo professor ou por eles mesmos, desenvolvendo a capacidade de aprender a aprender. As Arquiteturas Pedagógicas deram o suporte adequado às etapas importantes para o processo cognitivo, a instrução, a experimentação, a reflexão, a depuração e a construção de novos conhecimentos. A aprendizagem se faz significativa, no momento em que a criança percebe a utilidade e aplicação daquilo que aprende. Em Informática Educativa, essa significação é dupla, na medida em que os alunos aprendem interagindo com a máquina e utilizando esses novos conhecimentos para fazerem intervenções cada vez mais complexas, “movidos por um desejo pessoal de aprender” (PAPERT, 1994, p. 68). Para Papert, os processos educacionais devem ser baseados na teoria piagetiana, propostos a partir de atividades desafiadoras, capazes de desencadear conflitos cognitivos, adequados ao nível de desenvolvimento em que se encontram, colaborando para a construção progressiva do conhecimento. É nessa perspectiva, que devemos compreender a abordagem teórica proposta por Seymour Papert (1988) para a atuação nos laboratórios de informática. A Teoria Construcionista é uma forma de conceber e utilizar o computador na educação, envolvendo os sujeitos da aprendizagem e os recursos computacionais, constituindo um ambiente de aprendizagem onde o computador é um elo na interação que propicia o desenvolvimento da autonomia do aluno, não direcionando sua ação, mas auxiliando-o na construção de conhecimentos nas diferentes áreas do saber, por meio da exploração, das experimentações, das descobertas e da reflexão sobre suas ações e os resultados alcançados. Em seu trabalho, o autor não evidencia as etapas estabelecidas por Piaget no desenvolvimento da inteligência da criança, porque para ele importa como o desenvolvimento cognitivo acontece e como as ideias piagetianas podem contribuir para uma aprendizagem mais efetiva na construção do conhecimento. O uso do computador como ferramenta educacional é proposto para construir situações de aprendizagens que possibilitem acelerar as etapas do desenvolvimento cognitivo. Nesse processo, destaca-se a zona de desenvolvimento proximal descrita por Vygotsky (1991; 2001) e, também, o mecanismo de equilibração. As interações entre os sujeitos e os desafios propostos provocam os desequilíbrios necessários para a construção de novas estruturas, resultando em novos conhecimentos (PAPERT, 1988; PIAGET, 1976). Para Piaget (1976), a adaptação está na base do funcionamento intelectual e do funcionamento biológico, condição para a aprendizagem. A adaptação e a organização são processos diferentes e complementares que fazem parte do mecanismo de equilibração. Da mesma forma que a assimilação e a acomodação, situação em que a criança integra elementos novos às suas estruturas cognitivas existentes, que podem ser, mais ou menos, modificadas sem, contudo, serem destruídas, acomodando-as de maneira contínua. Em outras palavras, a acomodação é toda modificação dos esquemas de assimilação sob a influência de situações exteriores, o meio. O que explica o desenvolvimento intelectual da criança e permite o planejamento de atividades para a construção de aprendizagens cada vez mais complexas. A equilibração, portanto, é o mecanismo que autorregula a interação eficiente da criança com o meio, permitindo a conservação das novas estruturas, no caso das acomodações terem sido bem sucedidas. Para Piaget (1986), a adaptação e a organização são condições para que haja aprendizagem, sendo a base do funcionamento intelectual e biológico, embora diferentes, são processos complementares, assim como a assimilação e a acomodação, situação em que a criança integra os novos elementos às suas estruturas cognitivas, assimilando-as e acomodando-as de maneira contínua no processo de Equilibração. Explicando como acontece o desenvolvimento intelectual da criança, a construção da autonomia, da aprendizagem e o aumento da autoestima. Teorias que apóiam o uso das Arquiteturas Pedagógicas e permitem o planejamento de atividades cada vez mais complexas na construção das aprendizagens em ambientes informatizados. Metodologia Nesse trabalho, optou-se pela pesquisa qualitativa, em forma de estudo de caso. A turma contava com vinte e oito alunos. Um aluno, em particular, apresentava histórico de indisciplina e agressividade, desde a primeira série, em todas as dependências e espaços escolares. Outro aluno apresentava comportamento de afastamento do grupo, não se envolvendo, social e cognitivamente, nas atividades. As estratégias adotadas para a realização da investigação foram a observação da turma, com apontamentos e filmagens a cada encontro, registrados no Pbworks do Estágio[1] e no canal do YouTube[2]; a aplicação de uma enquete[3] com a finalidade de refletir junto com cada aluno como ele aprende, dentro do grupo, em relação ao trabalho realizado. O projeto de Trabalho "Caderno Virtual" nasceu da interação entre os alunos e os professores, do LABIN e o titular da turma, durante as atividades iniciais do estágio. O Projeto de Trabalho compreende uma AP porque uniu várias estratégias metodológicas para a construção de espaços de aprendizagens virtuais, os blogs. A proposta aconteceu ao fim da segunda aula, ao explicar que, para preencher campos fornecidos pelos sites, o computador só aceitava dois tipos de linguagem: o Português, com letras maiúsculas e minúsculas, em seus lugares devidos, acentuação e pontuação adequada e espaços entre as palavras. E, o Internetês, palavras escritas em letras minúsculas, sem espaço entre as palavras, pontuação ou acentuação, com seus símbolos próprios, como arroba, underline e hífen. A contraproposta por parte dos alunos foi criarem um dicionário onde pudessem diferenciar o Português, o Internetês e o “Analfabetês” (segundo os alunos, o analfabetês é a língua que a pessoa usa quando não domina o Português, nem o Internetês). A proposta foi discutida com os alunos e, a maneira e o meio escolhidos para publicar o dicionário foram trabalho individual nos blogs, na Internet. Para a construção dos blogs, foi preciso criar e-mails no GMAIL, tarefa difícil em função do Google acusar um único IP para os dezoito computadores do LABIN e pela dificuldade de ler e interpretar as ordens dadas pelo site. Construir essa competência demorou três semanas, mesmo com os alunos se disponibilizando para virem em turno inverso e tentando criá-los, sozinhos, em casa. O próximo passo foi a criação dos blogs, não menos problemático do que a criação dos e-mails, pelas razões citadas acima. Para os blogs, foram destinadas quatro semanas. As dificuldades apresentadas reforçaram a idéia do dicionário, dando origem às duas primeiras tarefas intituladas como "Dicionário Virtual", que aconteceu paralelamente a criação dos últimos e-mails e dos blogs, na medida em eles iam sendo criados, os alunos iam postando as tarefas. A partir da segunda tarefa, a idéia de um "Dicionário Virtual" consolidou-se entre os alunos, propuseram mostrar as diferentes linguagens: a falada no mundo real, com suas sutilezas, como as gírias, até o “analfabetês” e as diferentes linguagens usadas no mundo virtual, em scraps, fóruns, chats, redes sociais, etc. A tarefa consistiu em selecionar imagens de tabuletas com erros ortográficos e realizar uma análise da língua, correção e adequação da escrita, alterando-a, quando necessário, sem modificar o sentido. As dificuldades também influenciaram as mudanças metodológicas para a instrução dos passos necessários à criação e utilização dos blogs. A orientação começou verbalmente; mais tarde adotou-se a visualização de cada etapa, com o uso de datashow. Foi utilizado também um mini-tutorial escrito que permitiu a alteração das posturas que alguns alunos adotaram, de não envolvimento com as atividades, por terem vergonha da exposição ao serem auxiliados por colegas mais experientes, ou em dizer às professoras que não entendiam como executar as ações. Outra medida adotada, para lidar com as dificuldades apresentadas, foi preparar os alunos que estavam mais adiantados como monitores para auxiliar os colegas que apresentavam maior dificuldade, ação que atingiu resultados positivos na sequência do desenvolvimento da segunda tarefa do projeto. Resultados Na utilização de aplicativos como o processador de textos do blog, é possível analisar as ações dos alunos em termos do ciclo de descrição ação/reflexão/depuração/ação, no entanto, a descrição realizada pelo aluno é executada pelo computador apenas no formato do texto oferecido pelo aplicativo, assim, a reflexão e a depuração do conteúdo não são facilitadas pela execução do computador. Neste caso, para que o aluno alcance níveis superiores de compreensão, na construção de seu conhecimento, é imprescindível a atuação do professor, intervindo com questões problematizadoras da língua, apontando aspectos não previstos, sugerindo explicitações. O professor atua como leitor e não como revisor do texto, rompendo com a forma tradicional de ensino em que o círculo de produção é entrega/correção/nota/arquivamento. No caso da navegação pela Internet, para pesquisa e comunicação, a ação do aluno é escolher entre várias opções oferecidas, facilitadas pela combinação de textos, imagens, animação, vídeos e sons que incrementem seu trabalho. Assim, o aluno não descreve o que pensa, mas reflete sobre as informações disponibilizadas e seleciona outras opções que considera necessárias à completude do seu trabalho. Apesar de permitir amplas explorações e auxiliar na aquisição de informações, a navegação pela Internet é uma atividade que o professor precisa acompanhar de perto, atuando para a transformação crítica dessas informações em conhecimento. Quando se trata de desenvolver um projeto que visa a construção de uma página na Internet, como o blog, também é possível estabelecer o ciclo de descrição ação/reflexão/depuração/ação, porém com características bem particulares. É necessário que o conteúdo seja trabalhado fora do âmbito da página na Internet. Pois esta é uma atividade de representação do conhecimento construído na sala de aula, o aluno pode refletir sobre os diferentes assuntos apresentados e depurá-los em termos de qualidade, oferecendo a oportunidade de buscar novas informações, analisar e criticar as informações apresentadas, atuando na elaboração e organização dos seus próprios projetos de busca pelo conhecimento. O resultado da enquete, sobre o uso do mini-tutorial, revelou como a maioria dos 28 alunos acompanhados, encara seu processo de aprendizagem, mostrando que reconhece e reflete sobre como aprende. A pergunta da enquete foi simples: "Como você compreende e aprende melhor? - Considere para responder: a localização da tarefa; entendimento do que precisa ser feito no Blog; salvar arquivos; logar e postar a tarefa." 45% (13 alunos), responderam: "Entendo melhor seguindo o tutorial, sozinho, e pedindo ajuda para a professora ou um colega, se precisar." 24% (7 alunos), responderam: "Entendo melhor com a professora falando o passo a passo e eu, fazendo ao mesmo tempo." 14% (4 alunos), responderam: "Entendo melhor com a professora falando o passo a passo e eu, tentando fazer com a ajuda dos meus colegas que entenderam melhor." 7% (2 alunos), responderam: "Entendo melhor seguindo o tutorial, sozinho, e fazendo do meu jeito." 3%, (1 aluno) para cada uma das três respostas restantes, responderam: "Entendo melhor com a professora mostrando o passo a passo no datashow e, eu acompanhando e fazendo com a ajuda dos meus colegas que entenderam melhor." "Entendo melhor seguindo o tutorial, sozinho, fazendo e ajudando meus colegas com as minhas descobertas." "Entendo melhor seguindo o tutorial e fazendo com a ajuda de um colega que já fez." Por fim, 0%, ou seja, nenhum aluno respondeu: "Entendo melhor com a professora mostrando o passo-a-passo no datashow e eu, acompanhando e fazendo." Questões como essa, e suas respostas, precisam ser analisadas e respeitadas, para que o sujeito não se isole dos outros ao reconhecer suas diferenças e possa uní-las, contando com apoio para trabalhar colaborativamente. Esse mapeamento só reforça a ideia de que ninguém aprende a mesma coisa do mesmo jeito e ao mesmo tempo. As atividades realizadas no projeto deram aos alunos a oportunidade de refletir sobre suas ações de maneira independente; de agir em conjunto com seus pares, contando com a ajuda dos colegas e ajudando uns aos outros. Os alunos foram capazes de organizar as informações, com base em suas experiências anteriores, somadas as dos colegas para, diante do desafio proposto pela máquina, resolvê-los, desenvolvendo a capacidade de aprender a aprender. Considerações Finais Ao usar a informática nas escolas, como suporte a todas as disciplinas, estamos preparando nossos alunos para viver e trabalhar nessa sociedade, cada vez mais tecnológica. É necessário, porém, compreendê-la como instrumento, assim como papel, lápis, livro, quadro e giz, não confundindo seu uso, com o ensino único do seu uso. Pois o objetivo não é ensinar Informática nas escolas, e sim, usar a Informática a serviço do currículo. Precisamos reconhecer que os investimentos realizados nas instalações físicas tornam as escolas mais adequadas para o desempenho dos papéis que lhes cabem. Essas melhorias, como a criação de Laboratórios de Informática, exigem das pessoas que atuam nesse processo dinâmico e complexo, que é a Educação, decisões fundamentadas, seguras e criativas para atuar nas múltiplas dimensões do atendimento às novas gerações, traduzindo-as na adequação dos currículos e dos recursos para seu desenvolvimento, num nível tal que provoquem ganhos substanciais na aprendizagem dos estudantes (Cf. FAGUNDES et al, 2000). Um currículo aberto e flexível enxergará no uso dos computadores uma fonte ilimitada de informações para pesquisa, reflexão e construção de novos conhecimentos, enriquecendo e colorindo as aulas e o próprio convívio escolar, sem medo da mudança nas relações, tempos e espaços de sua instituição. Dessa forma, enquanto a escola usa, transforma seu uso, ao mesmo tempo em que se transforma. A função da Informática na escola, com o uso dos computadores, e de todas as mídias que os alunos têm acesso, é de ser transversal a todos os processos e provocar a interdisciplinaridade no seu espaço. Essa é a única forma em que o aluno aprenderá com a tecnologia, na escola e por toda a sua vida, usando-a como ferramenta de apoio ao processo de reflexão e construção do conhecimento. Para concluir, a utilização das Arquiteturas Pedagógicas, em um Projeto de Trabalho, como na experiência realizada com a turma apresentada, promove a construção de um tipo diferente de conhecimento, porque promove a inclusão digital, o letramento, como prática social e a liberdade de escolher assuntos do interesse dos alunos, tornando a aprendizagem uma experiência prazerosa e natural para o aluno. Já, um currículo fechado e de direcionamento tradicional, verá nos computadores uma alternativa para manter as relações de poder e saber, limitando seu uso às formas reprodutivas e mecânicas de transmissão dos conhecimentos que foram escolhidos pela instituição. A tecnologia agirá como mais uma forma de dominação, perpetuando as formas hierárquicas nos relacionamentos e na transmissão de conhecimentos. Vê-se, com isso, que o determinante para a implantação e sucesso da Informática nas escolas, não é a tecnologia em si, mas a forma como se encara seus usos, que tanto pode ser como uma estratégia cognitiva para a aprendizagem, usando-a como ferramenta de apoio, ou como instrumento de reprodução de conhecimentos já elaborados. O mundo atual exige pessoas críticas, criativas e reflexivas, com a capacidade de trabalhar em grupo. Essas atitudes não podem ser transmitidas ao sujeito, devem ser construídas e desenvolvidas por cada um. Por isso, a educação deve oferecer condições para que o aluno vivencie situações que lhe permitam construir e desenvolver essas competências no decorrer do processo de escolarização. Sustento o argumento, fundamentada na Teoria Construtivista (PIAGET, 1974; 1976; 1986; 1994) e na Prática Construcionista, realizada por Papert (1988; 1994), de que um ambiente informatizado em conjunto com as Arquiteturas Pedagógicas auxiliam nesse processo. Referências CARVALHO, M.J. S., MENEZES, C.S., NEVADO, R.A., 2005. Arquiteturas Pedagógicas para Educação a Distância: Concepções e Suporte Telemático. In: Simpósio Brasileiro de Informática na Educação, 2005, Juiz de Fora - MG. Workshop Arquiteturas Pedagógicas para Suporte à Educação a Distância Mediada pela Internet. http://arquiteturaspedagogicas.pbworks.com/f/Arquiteturas_Pedagogicas.pdf (último acesso em 17/09/10) id. Aplicando Arquiteturas Pedagógicas em Objetos Digitais Interativos http://www.cinted.ufrgs.br/renote/dez2006/artigosrenote/25132.pdf (último acesso em 17/09/10) FAGUNDES, L. da C. & MAÇADA, D. L. & SATO, L. S. Aprendizes do futuro: as inovações começaram!. Brasília: Estação Palavra, 2000. http://www.oei.es/tic/me003153.pdf MATURANA, Humberto R. Cognição, ciência e vida cotidiana. Organização e tradução Cristina Magro, Victor Paredes. - Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2001, 203p. - (Humanitas). Em: http://livrosdamara.pbworks.com/f/Humberto Maturana - Cognição, Ciência e Vida Cotidiana.pdf ________________________. Emoções e linguagem na educação e na política. Trad. José Fernando Campos Fortes. - Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998. 98p. Em: http://livrosdamara.pbwiki.com/f/Humberto Maturana - Emoções e Linguagem na Educação e na Política.pdf PAPERT, Seymour. A Máquina das Crianças - Repensando a Escola na Era da Informática. Trad. Sandra Costa. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994. 210p. _________________. Logo: computadores e educação. 3. ed. São Paulo: Brasiliense, 1988. PIAGET, Jean. A Epistemologia Genética e a Pesquisa Psicológica. Trad. Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1974. Em: http://www.scribd.com/doc/7178930/Jean-Piaget-Epistemologia-GenEtica ______________. O nascimento da inteligência na criança. Tradução: Maria Luísa Lima, Revisão tipográfica: José Marques. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1986. Em: http://materiadeapoioaotcc.pbworks.com/f/Piaget++O+Nascimento+da+Inteligência+na+Cri ______________. O Juízo Moral na Criança. Tradução: Elzon Lenardon. São Paulo, Summus, 1994. Em: http://books.google.com.br/books?id=jGH_amDeFM0C &printsec=frontcover&hl=pt-br&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false ______________. A Equilibração das Estruturas Cognitivas. Problema central do desenvolvimento. Trad. Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Zahar, 1976. Em: http://www.scribd.com/doc/14427162/Vygotsky-A-formacao-social-da-mente VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. Texto proveniente de: Seção Braille da Biblioteca Pública do Paraná http://www.pr.gov.br/bpp. Digitalizado por: Funcionários da Seção Braille da BPP - Curitiba - PR. Organizadores: Michael Cole, Vera John-Steiner, Sylvia Scribner, Ellen Souberman Tradução: José Cipolla Neto, Luis Silveira Menna Barreto, Solange Castro Afeche. 107 páginas. Livraria Martins FontesEditora Ltda. São Paulo - SP, 1991. 4ª edição brasileira. Coordenação da tradução: Grupo de Desenvolvimento e Ritmos Biológicos - Departamento de Ciências Biomédias USP Revisão da tradução: Monica Stahel M. da Silva. Em: http://www.scribd.com/doc/14427162/Vygotsky-A-formacao-social-da-mente _______________. Pensamento e Linguagem. Edição eletrônica: Ed Ridendo Castigat Mores, (www.jahr.org). Setembro, 2001. 136 páginas. Em: http://www.scribd.com/doc/2570553/Pensamento-e-Linguagem [1] http://mararosaneestagio.pbworks.com/Reflexão-Semanal - Consultar Mídias das Semanas de Estágio. [2] http://www.youtube.com/user/superbichado - Consultar vídeos do Estágio. |
Mara Rosane Noble Tavares
Página para Ricos Contatos: "Audaciosamente indo onde nenhum homem jamais esteve." Gene Roddenberry
terça-feira, 18 de outubro de 2011
Artigo - IX Congresso Internacional de Tecnologia na Educação/SENAC
terça-feira, 2 de agosto de 2011
sábado, 21 de maio de 2011
Nova Série
Flash Forward é uma série televisiva americana, adaptada para a TV por Brannon Braga (TNG) e David S. Goyer, que foi ao ar na ABC entre 24 setembro de 2009 e 27 de maio de 2010. É baseado no romance Flashforward, de 1999, do canadense escritor de ficção científica Robert J. Sawyer . A série foi cancelada em maio de 2010. A série gira em torno da vida de várias pessoas que viveram um evento misterioso mundial, que faz com que quase todos no planeta ao mesmo tempo, percam a consciência durante 2 minutos e 17 segundo, em 06 outubro de 2009. Durante o "apagão", as pessoas vêem o que parecem ser visões de suas vidas em 29 de abril de 2010, " flashforward ".
Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/FlashForward
Simplesmente, fantástica, adrenalina pura na veia. Não acredito que essa série foi cancelada. No mundo todo, fãs simulam apagões e filmam, para mandar para a ABC, na esperança e expectativa que a série seja negociada e volte a sua sequência. Ver: http://flashforward.seriestv.com.br/
Bom, da minha parte, sou trekker e, embora não seja uma nerd por definição, curto em demasia ficção científica para ficar de fora dessa briga. Brannon Braga, dirigiu Jornada nas Estrelas, a Nova Geração, por 9 anos e, alguns episódios de outros títulos da franquia, o que lhe atesta enorme competência. Contudo, como todas as séries de FC, parece que são fadadas a não ter a audiência necessária em sua primeira temporada, flashforward, provou não ser diferente. Entretanto, estamos em 2011, e finda sua 1ª temporada, os fãs estão pipocando e pedindo uma continuação.
Travei contato com essa série, essa semana. Fiquei doente e de cama, para me entreter, acessei http://www.videobbseries.net/flashforward.html e comecei a acompanhar a série. Que grata surpresa, extrapolou minhas expectativas, já no piloto. Surpresa maior, foi saber que parou na primeira temporada, sem chance de se desenvolver. Não irei entrar aqui no mérito do enredo e sua exploração, que ao meu ver é infinita, nem se quer caberia em 10 temporadas, imagina ao ver dos roteiristas e dos que fazem a argumentação!
Bom, o certo é que, não é certo cancelar essa série promissora.
Acredito que ela deva reviver em breve, aguardo anciosamente o seu retorno.
Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/FlashForward
Simplesmente, fantástica, adrenalina pura na veia. Não acredito que essa série foi cancelada. No mundo todo, fãs simulam apagões e filmam, para mandar para a ABC, na esperança e expectativa que a série seja negociada e volte a sua sequência. Ver: http://flashforward.seriestv.com.br/
Bom, da minha parte, sou trekker e, embora não seja uma nerd por definição, curto em demasia ficção científica para ficar de fora dessa briga. Brannon Braga, dirigiu Jornada nas Estrelas, a Nova Geração, por 9 anos e, alguns episódios de outros títulos da franquia, o que lhe atesta enorme competência. Contudo, como todas as séries de FC, parece que são fadadas a não ter a audiência necessária em sua primeira temporada, flashforward, provou não ser diferente. Entretanto, estamos em 2011, e finda sua 1ª temporada, os fãs estão pipocando e pedindo uma continuação.
Travei contato com essa série, essa semana. Fiquei doente e de cama, para me entreter, acessei http://www.videobbseries.net/flashforward.html e comecei a acompanhar a série. Que grata surpresa, extrapolou minhas expectativas, já no piloto. Surpresa maior, foi saber que parou na primeira temporada, sem chance de se desenvolver. Não irei entrar aqui no mérito do enredo e sua exploração, que ao meu ver é infinita, nem se quer caberia em 10 temporadas, imagina ao ver dos roteiristas e dos que fazem a argumentação!
Bom, o certo é que, não é certo cancelar essa série promissora.
Acredito que ela deva reviver em breve, aguardo anciosamente o seu retorno.
quarta-feira, 4 de maio de 2011
NOVO ESPAÇO
Venham todos conhecer meu novo projeto de trabalho: FRONTEIRA FINAL,memória dos 45 anos de Star Trek, SAST - História da Sociedade Astronômica Star Trek, séries, filmes, livros, fórum.
domingo, 9 de novembro de 2008
SONHO COLETIVO
POR: Carlos Alberto Machado
Tudo começou quando um ex-fuzileiro naval e produtor de faroestes para a TV apresentou aos executivos da Paramount uma proposta para uma nova série, que ele conseguiu vender dizendo que seria algo assim como “A Conquista do Oeste” no espaço.
O nome deste sonhador era Gene Rodenberry, e a sua idéia não tinha nada a ver com caravanas e índios, mas era a época da Corrida Espacial, e o tema parecia evocar uma nova fronteira para o povo norte-americano, isso convenceu os executivos do estúdio e veio a permissão para ir frente. No fim, só a idéia da Fronteira Final se tornaria parte da série Jornada nas Estrelas, Star Trek, que estreou na TV americana em Setembro de 1966, chocando a complacência e o conservadorismo do público norte-americano ao mostrar um mundo futuro sem preconceitos, onde a humanidade havia finalmente superado a sua infância.
Enquanto a nossa realidade se via envolta na Guerra-Fria entre o mundo capitalista e o comunista, no mundo descrito por Gene Rodenberry pessoas de todas as nacionalidades trabalhavam juntas em uma sociedade onde não havia mais conflitos ideológicos e o dinheiro havia sido abolido. Enquanto as lutas raciais dominavam as ruas dos Estados Unidos e as mulheres eram cidadãs de 2a. classe, na nave Enterprise uma mulher de cor, em vez de escrava ou empregada doméstica, aparecia como oficial da ponte de comando e engenheira de comunicações. E enquanto, mesmo em outros trabalhos de ficção científica, os alienígenas simbolizavam o terror do desconhecido, do outro que era também o diferente, tanto na nacionalidade como até nas preferências sexuais, a Federação Unida dos Planetas imaginada por Rodemberry era uma união que se distinguia justamente por se dar entre os diferentes, anunciando a possibilidade da convivência e da tolerância como normas e não exceções.
Depois da primeira temporada, os Estúdios Paramount resolveram cancelar a série, considerando a audiência insuficiente, mas um fenômeno nunca visto impediu isso: milhares e milhares de cartas chegaram à Paramount Pictures, exigindo a continuação de Jornada nas Estrelas. Entre os que escreveram estavam cientistas e escritores célebres ou jovens adolescentes… todos eles eram “outros”, “diferentes” e também tolerantes, vivendo em um país onde estes costumam permanecer calados.
Graças a este esforço a chamada Série Clássica de Jornada nas Estrelas conseguiu durar 3 temporadas. Mas, depois que ela se encerrou, o seu público, que era muito maior do que se esperava, a fez continuar viva através de reprises que nunca deixavam de ter audiência, além de fã-clubes que surgiram por todos os lados e até em outros países.
Gene Rodenberry nunca deixou de lado a sua criação e, em meio ao sucesso de Guerra nas Estrelas, ele convenceu a Paramount a lhe dar mais uma chance.
Jornada nas Estrelas chegou ao cinema, rivalizando o sucesso da franquia recém-nascida de George Lucas e levando os executivos da Paramount a liberarem a verba para novos filmes e, a partir de 1987, para uma nova série de TV: Star Trek: the Next Generation (Jornada nas Estrelas, a Nova Geração).
Para a surpresa até dos fãs que, a princípio, ficaram reticentes com a nova série, seus personagens cresceram e seus roteiros foram se tornando cada vez melhores. Quando terminou o terceiro ano de produção, ninguém mais duvidava que a série iria continuar, em meio ao reconhecimento tanto no mundo da ficção científica como nos vários prêmios de melhor série, roteiro e até ator, este último para Patrick Stewart, um veterano shakespeariano que se tornou o Capitão Picard para os fãs… muito antes de virar o Prof. Xavier dos X-Man.
Depois de sete anos no ar, a Nova Geração daria lugar a mais outra três séries… Star Trek: Deep Space 9 (1993-99) também duraria 7 temporadas e sua sucessora, Star Trek: Voyager (1995-00) duraria 7 temporadas apenas a última série, Star Trek: Enterprise (2001-06), teve o cancelamento sumário sob a alegação de que os índices de audiência eram baixos tendo duração de apenas 4 anos.
Na verdade, o sucesso das séries de Jornada nas Estrelas, vinham do ideal de uma utopia fraterna, tolerante e bem sucedida… onde a diplomacia e o entendimento deviam valer mais do que a força e a ciência e a tecnologia deviam servir para instrumentalizar a humanidade, e não para torná-la menos humana e cada vez mais uma mera consumidora.
No ano passado a série Enterprise foi cancelada, justamente quando os fãs estavam se preparando para comemorar os 40 anos de Star Trek, que serão agora em setembro de 2006. Porém a Paramount já anunciou um novo filme com a tripulação da série Clássica, mas com um elenco totalmente novo sob a direção de J.J. Abrams (criador da série “Lost”). A idéia ainda não conquistou a todos, mas é um novo alento aos milhões de fãs desse sonho coletivo.
FONTE: http://www.jornadanasestrelas.com/index.php?pag=noticia&id_noticia=143&id_menu=174&conjunto=&id_usuario=¬icias=&id_loja= (EM 09/11/08)
Tudo começou quando um ex-fuzileiro naval e produtor de faroestes para a TV apresentou aos executivos da Paramount uma proposta para uma nova série, que ele conseguiu vender dizendo que seria algo assim como “A Conquista do Oeste” no espaço.
O nome deste sonhador era Gene Rodenberry, e a sua idéia não tinha nada a ver com caravanas e índios, mas era a época da Corrida Espacial, e o tema parecia evocar uma nova fronteira para o povo norte-americano, isso convenceu os executivos do estúdio e veio a permissão para ir frente. No fim, só a idéia da Fronteira Final se tornaria parte da série Jornada nas Estrelas, Star Trek, que estreou na TV americana em Setembro de 1966, chocando a complacência e o conservadorismo do público norte-americano ao mostrar um mundo futuro sem preconceitos, onde a humanidade havia finalmente superado a sua infância.
Enquanto a nossa realidade se via envolta na Guerra-Fria entre o mundo capitalista e o comunista, no mundo descrito por Gene Rodenberry pessoas de todas as nacionalidades trabalhavam juntas em uma sociedade onde não havia mais conflitos ideológicos e o dinheiro havia sido abolido. Enquanto as lutas raciais dominavam as ruas dos Estados Unidos e as mulheres eram cidadãs de 2a. classe, na nave Enterprise uma mulher de cor, em vez de escrava ou empregada doméstica, aparecia como oficial da ponte de comando e engenheira de comunicações. E enquanto, mesmo em outros trabalhos de ficção científica, os alienígenas simbolizavam o terror do desconhecido, do outro que era também o diferente, tanto na nacionalidade como até nas preferências sexuais, a Federação Unida dos Planetas imaginada por Rodemberry era uma união que se distinguia justamente por se dar entre os diferentes, anunciando a possibilidade da convivência e da tolerância como normas e não exceções.
Depois da primeira temporada, os Estúdios Paramount resolveram cancelar a série, considerando a audiência insuficiente, mas um fenômeno nunca visto impediu isso: milhares e milhares de cartas chegaram à Paramount Pictures, exigindo a continuação de Jornada nas Estrelas. Entre os que escreveram estavam cientistas e escritores célebres ou jovens adolescentes… todos eles eram “outros”, “diferentes” e também tolerantes, vivendo em um país onde estes costumam permanecer calados.
Graças a este esforço a chamada Série Clássica de Jornada nas Estrelas conseguiu durar 3 temporadas. Mas, depois que ela se encerrou, o seu público, que era muito maior do que se esperava, a fez continuar viva através de reprises que nunca deixavam de ter audiência, além de fã-clubes que surgiram por todos os lados e até em outros países.
Gene Rodenberry nunca deixou de lado a sua criação e, em meio ao sucesso de Guerra nas Estrelas, ele convenceu a Paramount a lhe dar mais uma chance.
Jornada nas Estrelas chegou ao cinema, rivalizando o sucesso da franquia recém-nascida de George Lucas e levando os executivos da Paramount a liberarem a verba para novos filmes e, a partir de 1987, para uma nova série de TV: Star Trek: the Next Generation (Jornada nas Estrelas, a Nova Geração).
Para a surpresa até dos fãs que, a princípio, ficaram reticentes com a nova série, seus personagens cresceram e seus roteiros foram se tornando cada vez melhores. Quando terminou o terceiro ano de produção, ninguém mais duvidava que a série iria continuar, em meio ao reconhecimento tanto no mundo da ficção científica como nos vários prêmios de melhor série, roteiro e até ator, este último para Patrick Stewart, um veterano shakespeariano que se tornou o Capitão Picard para os fãs… muito antes de virar o Prof. Xavier dos X-Man.
Depois de sete anos no ar, a Nova Geração daria lugar a mais outra três séries… Star Trek: Deep Space 9 (1993-99) também duraria 7 temporadas e sua sucessora, Star Trek: Voyager (1995-00) duraria 7 temporadas apenas a última série, Star Trek: Enterprise (2001-06), teve o cancelamento sumário sob a alegação de que os índices de audiência eram baixos tendo duração de apenas 4 anos.
Na verdade, o sucesso das séries de Jornada nas Estrelas, vinham do ideal de uma utopia fraterna, tolerante e bem sucedida… onde a diplomacia e o entendimento deviam valer mais do que a força e a ciência e a tecnologia deviam servir para instrumentalizar a humanidade, e não para torná-la menos humana e cada vez mais uma mera consumidora.
No ano passado a série Enterprise foi cancelada, justamente quando os fãs estavam se preparando para comemorar os 40 anos de Star Trek, que serão agora em setembro de 2006. Porém a Paramount já anunciou um novo filme com a tripulação da série Clássica, mas com um elenco totalmente novo sob a direção de J.J. Abrams (criador da série “Lost”). A idéia ainda não conquistou a todos, mas é um novo alento aos milhões de fãs desse sonho coletivo.
FONTE: http://www.jornadanasestrelas.com/index.php?pag=noticia&id_noticia=143&id_menu=174&conjunto=&id_usuario=¬icias=&id_loja= (EM 09/11/08)
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FICÇÃO CIENTÍFICA E EDUCAÇÃO
A Ficção Científica e sua aplicação na Educação
Um instrumento auxiliador para o professor
Carlos Alberto Machado
Doutorando em educação pela PUCRio
cipexbr@yahoo.com
Em 1926, um luxemburguês radicado nos EUA, Hugo Gernsback, criou o termo ficção científica (sempre que nos referirmos a ficção científica usaremos a sigla FC) para classificar o tipo de histórias que ele se dispunha a publicar, exclusivamente, numa revista que estava lançando “Amazing Stories” (Histórias Assombrosas). A iniciativa de Gernsback estimulou autores jovens e popularizou o gênero junto ao público.
Em termos de narrativas populares envolventes e apelo de massa como o emblemático filme Blade Runner e Mad Max, verdadeiros divisor0es de águas no cinema, a FC também oferece épicos como ‘Ilíada’ e ‘Odisséia’ cujo conteúdo temático espelha-se nas space operas – termo utilizado pelos autores do gênero para designar livros ou filmes contendo sagas históricas, Impérios galácticos, etc. –, cujas mitologias religiosas e narrativas heróicas em geral têm catalisado gerações entre o grande público, seguindo uma fórmula aqui bem definida pelo escritor Bráulio Tavares:
(...) uma narrativa popular tem que envolver o leitor – ou telespectador (sic), através de descrições vívidas, ação intensa e estruturas com as quais ele se identifique facilmente.
Outro exemplo emblemático do apelo popular da FC, encontramos na literatura, na qual temos a cultuada trilogia ‘Fundação’ de Isaac Asimov. Também no cinema, encontramos a mitológica saga de ‘Guerra nas Estrelas’ – ‘Star Wars’, mobilizando massas de aficcionados. Este tipo de literatura ou filme, apesar de, muitas vezes, estar longe da ciência formal ou de seus preceitos, atrai em demasia a curiosidade dos jovens em geral.
Quanto a legitimidade educacional de sua busca científica, Tavares (1986) lembra-nos que a FC se utiliza muito da matéria-prima da ciência, mas manipula seus instrumentos, resultando em um compromisso com a imaginação e a fantasia. Sabe-se, atualmente, que a verdade científica não é definitiva, e a própria ciência cartesiana já a modificou com o passar do tempo, inúmeras vezes. A verdade de um século não é, necessariamente, a mesma de outro, e a mesma ciência de hoje já não é mais sinônimo de verdade absoluta. Dentro de sua visão de causa e efeito, não explica mais a complexidade do universo moderno percebido e sempre irá esbarrar nos limites impostos pelo pensamento racional. Portanto, o discurso ficcional da FC, caracterizado pela extrapolação da imaginação científica, vem para manipular a matéria-prima do pensamento lógico-formal e estimular a busca de novos parâmetros para o pensamento científico.
Por outro lado a “(...) ficção científica tem recursos inesgotáveis, demonstrando uma infinita confiança nos recursos da imaginação humana.”
Heróis, ação e aventura não faltam nas space-operas para aqueles que se identificam com suas personalidades. Como estímulo à busca de novas respostas, um de seus recursos temáticos é o confronto diante do conhecido e do desconhecido, o qual cria uma tensão dinâmica e permanente para o herói e para o leitor. Algumas dessas circunstâncias de desafio forçam o leitor e os personagens “(...) a se depararem com situações ‘além da imaginação’, nas quais ele é obrigado a identificar, prever e controlar fenômenos inexplicáveis – mais ou menos a situação do cientista diante de um problema de laboratório.”
O filme sempre foi um instrumento poderoso para ser utilizado em sala de aula. Mas sua utilização acaba sendo abandonada muitas vezes por falta de tempo: como a duração dos filmes feitos para o cinema é longa, privilegiam-se, primordialmente, os conteúdos escolares que devem ser trabalhados. Exibir um filme com duração de aproximadamente duas horas, realmente, toma muito tempo do professor. Entretanto, propomos que a escola continue utilizando esse recurso tão necessário em nossos dias.
O vídeo (DVD) e a televisão não devem ficar abandonados em um armário da escola. Também é discutível utilizá-los apenas para exibir documentários educativos que, para os estudantes, acabam sendo monótonos e cansativos. Eles apreciam, em demasia, filmes e desenhos de ficção científica. Então, por que não lançarmos mão desse gênero cinematográfico que atravessa a história cultural de várias gerações, que já está integrado à vida de nossos alunos?
Muito se tem falado, também, da distância prática entre a proposta educacional da escola e o mundo real vivido pelo educando. Essa distância fica mais evidente ainda, quando determinado currículo aborda, por exemplo, disciplinas que exigem conhecimentos técnicos, como a Física, mas cuja vivência e observação de certos fenômenos é uma realidade remota, somente possível de ser experienciada pelos educandos através de livros, filmes de televisão ou cinema, quando são abordados assuntos tais como: Sistemas Solares, Laser; Computadores; Distâncias Interplanetárias, Teorias sobre a Velocidade da Luz, Viagens no Tempo, Antigravidade; Robôs e Andróides, Cérebro Positrônico, Scanners Portáteis (tricorders); especulações sobre Antimatéria, Velocidade de Dobra, Buracos Negros ou Buracos de Vermes; Miniaturizações, Dimensões Paralelas, Transmissores de Matéria; Invisibilidade, Imortalidade, Telepatia e muitos outros. Temas esses, geralmente utilizados na FC ou na ciência imaginária: “A ciência imaginária não só é justificada por sua importância para o enredo de uma história de FC, como pelo seu aspecto profético ou de antecipação.(...) Alguns destes elementos são inviáveis e obviamente fantásticos, outros são possíveis e mesmo previsíveis.” No que tange a essa viabilidade profética da FC, Fausto Cunha também nos chama a atenção para este importante aspecto da legitimidade de sua busca científica:
Alguns temas que antigamente eram de domínio da pura fantasia, como os foguetes teleguiados, os transplantes de órgãos, os satélites artificiais, as técnicas de conservação pelo frio (o velho sonho da animação suspensa) e especialmente, para nossa infelicidade, as bombas nucleares, são hoje realidades com as quais temos que conviver. A elas se juntam outras antecipações convertidas em ameaças, como a poluição atmosférica, e envenenamento dos rios e dos mares, o fim do verde, a superpopulação, a fome, as novas doenças. Em suma a morte da Terra.
Na sala de aula, o docente geralmente prende-se a esquemas, fórmulas e problemas teóricos que fogem à realidade animada, disponível em literatura ou filmes do gênero. A esse respeito, David Allen, em sua obra ‘No Mundo da Ficção Científica’ observa: “Desse modo, o campo da FC inclui várias obras que utilizam os dispositivos da FC para examinar questões, idéias, e temas de uma perspectiva diferente da que está comumente disponível para nós, a partir de outros tipos de ficção e em nossa vida diária.”
Similarmente, os recursos tecnológicos utilizados pela FC na literatura, no cinema ou nas histórias em quadrinhos (HQs) - que os jovens também apreciam em demasia -, podem facilitar ao docente o ensino ilustrativo de uma matéria específica. Mas, para isso, faz-se necessário que este também tenha algum interesse pelo tema em questão, e que esteja atualizado, constantemente, com as últimas descobertas científicas pertinentes à sua área de conhecimento; bem como, com filmes, livros e revistas em quadrinhos sobre ficção científica, seja através de bibliotecas, bancas de revistas, cinema, televisão ou locadoras de filmes de sua cidade. Alguns professores podem preferir (e isso também vale para os educandos) comparecer com sua turma de alunos ao próprio cinema para, juntos, poderem assistir a um determinado filme pré-selecionado, com a finalidade de, em seguida, discutirem em sala de aula os conteúdos apresentados em forma de relatórios, mesas redondas ou outro recurso didático disponível. Aspectos sociais, filosóficos, tecnológicos, éticos, biológicos, antropológicos, matemáticos, lingüísticos, físicos, astronômicos, químicos, estéticos, etc., são apenas alguns aspectos que podem ser extraídos, analisados ou dissecados pelo educando. Conteúdos esses, devida e respectivamente, orientados pelo docente, relacionando-os à sua disciplina, facilitando assim a aprendizagem. Como afirma Clarke: “Uma pessoa que conheça tudo sobre as comédias de Aristófanes e nada sobre a Segunda Lei da Termodinâmica é tão inculta como aquela que dominou a teoria quântica, mas pensa que Van Gogh pintou a Capela Sistina.”
Outros professores podem sugerir que o próprio aluno selecione o filme de FC desejado, desde que, obviamente, o mesmo já seja antecipadamente conhecido pelo referido professor, para que este elabore os devidos paralelos com conteúdos programáticos.
As escolas podem perfeitamente se tornar locais singulares, como mundos próprios nos quais cyborgs geracionalmente diferentes se encontram e trocam narrativas sobre suas viagens na tecno-realidade – desde que nós nos permitamos reimaginá-los e reconstruí-los de uma forma inteiramente nova, em negociação com aqueles que um dia tomarão nosso lugar.
A primazia e a riqueza de conteúdo chegou a tal ponto que, até os cursos universitários vêm utilizando a ficção científica em suas disciplinas, como evidenciado em minha dissertação de mestrado. Menosprezar um gênero que já trabalhou uma versão espacial Shakespeareana como ‘O Planeta Proibido’, é menosprezar o conhecimento.
A estética da arte e os cursos de comunicação já analisam os filmes cinematográficos e televisivos desde sua criação em meados de 1920. Entre muitos exemplos podemos citar ‘Metrópolis’ de Fritz Lang, ‘Skanner: sua mente pode destruir’ e ‘Vídeo Drome’, ambos de David Cronemberger. Discussões políticas podem ser realizadas com ‘Dr. Fantástico’, ‘O Dia em que a Terra Parou’ e ‘Star Trek’ - Jornada nas Estrelas’, neste último analisando a Federação dos Planetas Unidos, órgão federativo que tenta promover a paz na Galáxia. Cabe às diferentes áreas do conhecimento também descobrirem a importância desses filmes como recurso pedagógico.
Professores de História sempre utilizaram filmes de época ou filmes de guerra, para discutir seus conteúdos (com primazia e didatismo). O mesmo vale para os professores de Geografia que têm no cinema um rico instrumento didático. Conhecer o mundo através da tela em nossos dias é mais fácil do que viajar e conhecê-lo pessoalmente.
Professores de inglês aproveitam a língua inglesa encontrada nos filmes atuais, simplesmente desligando o recurso de legenda, no caso dos DVDs, ou ocultando a parte inferior da televisão, no caso das fitas de vídeo, para trabalhar a pronúncia correta.
Albert Einstein costumava dizer que a imaginação é mais importante do que o conhecimento. Ela estimula a criatividade e, por conseguinte, auxilia na solução de problemas. Ora, a imaginação que utilizamos na criação de invenções, nas novas descobertas, na pesquisa científica e na solução de problemas é a mesma que nos permite escrever contos, criar roteiros, imaginar futuros que estão por vir. Alguns autores de ficção científica chegam a imaginar nossa história de forma diferente e para isso é necessário um exercício soberbo. Mundos alternativos onde verificamos como o mundo poderia ter sido se…Hitler não tivesse perdido a guerra; se o primeiro Presidente dos Estados Unidos da América fosse uma mulher; se os cientistas fossem venerados como as estrelas do Rock e por ai vai. Esses exemplos podem ser verificados literalmente nos episódios da série de FC ‘Sliders’ de Tracy Torme e Robert K. Weiss.
Sempre que falamos em trabalhar ficção científica em sala de aula logo vem a imagem de seu uso na disciplina de física e naturalmente ela teria um número muito maior de alternativas de uso em relação a seus conteúdos. Lamentavelmente alguns professores a utilizam apenas como exemplos negativos e deixam de lado bons exemplos. As séries de ‘Star Trek’ – ‘Jornada nas Estrelas’ são o melhor exemplo de vários conceitos corretos da física, da holografia, da astronomia e da cosmologia. Certamente alguns não procedem, como sons no espaço, teletransporte de matéria, viagens no tempo, mas que, ainda assim, podem ser discutidos pelo professor.
Um bom livro para professores de física que se interessem em utilizar a ficção científica em suas salas de aula é: ‘A Física de Jornada nas Estrelas’ . Ele discute todos os conceitos encontrados nos filmes e nas séries televisivas de ‘Star Trek’.
Ainda dentro dos exemplos de física, podemos citar alguns filmes feitos para o cinema: ‘A.I. Inteligência Artificial’, ‘2001: Uma Odisséia no Espaço’ e ‘2010: O Ano em que faremos Contato’, ‘Apollo 13’, ‘Contato’, ‘O Planeta Vermelho’, ‘Missão Marte’ etc.
Mas não é apenas a física que pode enriquecer-se com esse gênero cinematográfico e televisivo. A filosofia também encontra seus conceitos por aqui. Já existem várias obras especializadas que o demonstram. Os livros: ‘A Metafísica de Jornada nas Estrelas’ , da editora Makron Books, ‘Matrix: bem- vindo ao deserto do real’ , ‘A Pílula Vermelha: Questões de Ciência, Filosofia e Religião em Matrix’ , e o mais recente ‘Scifi=scifilo: a filosofia explicada pelos filmes de ficção científica’ , são alguns belos exemplos do que explanamos. Conceitos que vão além da Caverna de Platão, como a morte, a vida, realidade, ética, identidade, livre-arbítrio, moralidade, metafísica, onisciência, determinismo, entre outros. Mas os professores de filosofia descobriram uma outra ótima saída para despertar a curiosidade dos adolescentes, também seus alunos. O mercado editorial brasileiro, através da editora Madras, recheou as prateleiras com livros versando sobre filosofia e séries de televisão: ‘A filosofia de Bufy’, ‘A filosofia de Harry Potter’, ‘A filosofia de Senfield’ e a ‘filosofia de Sipsons’ são alguns que foram lançados até o momento.
Entre os filmes que trazem questões filosóficas bastante instigantes destacamos a trilogia de ‘Matrix’, ‘Gattaca: A Experiência Genética’, ‘O Exterminador do Futuro 1 e 2’, ‘Minority Report: A Nova Lei’, ‘Independance Day’, ‘Alien’, ‘Blade Runner, o Caçador de Andróides’, ‘Star Wars’, ‘O Sexto Dia’, ‘O Homem sem Sombra’, ‘Frankenstein’, entre muitos outros.
Professores de Biologia vêm trabalhando com filmes de ficção científica há algum tempo, pois eles trazem conceitos e questões relacionadas a essa área que podem ser analisados e discutidos em classe. Alguns exemplos são: ‘Viajem Fantástica’, ‘Gattaca: A Experiência Genética’, ‘A Corrida Silenciosa’ (o preferido dos professores da área), ‘Waterworld: o Segredo das Águas’, ‘Aquaria’, ‘O dia Depois de Amanhã’, ‘O Dia Seguinte’, ‘Missão Marte’, ‘O Planeta Vermelho’, ‘O Segredo do Abismo’, ‘Jornada nas Estrelas IV - A volta para casa’, ‘Duna’ e a abertura fantástica de ‘X-Man: o filme’, bem como seu conteúdo, para discutir mutação. Vida, genética, bio-ética, demografia, sobrevivência, ecologia, biodiversidade entre outros, são apenas alguns exemplos do que pode ser debatido em sala de aula a partir da visulização desses filmes. Um livro que pode dar suporte a essa relação biologia/cinema é ‘A Ciência de Star Wars’ .
A Psicologia, consciência e inconsciência, o eu, ego e outros tantos conceitos-chave das teorias freudiana, jungiana e lacaniana também podem ser identificados no conteúdo de filmes como ‘Esfera’, ‘Solaris’ (de Andrei Tarkovski), ‘Gattaca: A Experiência Genética’, a trilogia de ‘Matrix’, ‘Enigma do Horizonte’, ‘Q-Pax’, ‘O Vingador do Futuro’, ‘Laranja Mecânica’, ‘O Segredo do Abismo’. Um exemplo mais recente é o filme ‘O Diário do Mochileiro das Galáxias’, onde pode ser encontrado um robô maníaco-depressivo, portas que gemem ao serem abertas ou fechadas, um rei da galáxia que tem um ego gigantesco, uma arma que ao ser apontada para alguém o induz a dizer a verdade (mesmo oculta). A burocracia e o tédio são notavelmente escrachados denotando uma realidade pós-moderna bem ao estilo Monty Python.
De certa forma o exercício da exploração de potenciais futuros é um dos principais objetivos disciplinares da FC na educação. Vivemos em uma sociedade atribulada com mudanças sociais rápidas, as quais nos forçam a olhar para o futuro. Essa busca futurística deve ser uma função básica e contínua no campo da educação. Se levarmos em conta o princípio de que os educandos devem estar preparados para um mundo em que uma iminente diversidade embrionária de novos estilos de vida, valores e sistemas sociais concorrerão para coexistir, então, a educação deve necessariamente expandir seu domínio disciplinar para o campo da projeção futurística também, a fim de poder abarcar o exame do que é possível no potencial do desenvolvimento humano.
Naturalmente, a FC também é um importante instrumento didático para se dar a conhecer aos estudantes futuros alternativos. Essa literatura vem, há pelo menos um século, discorrendo sobre temas pertinentes às transformações incipientes da sociedade humana em seus aspectos sócio-psicológicos, antropológicos e, em particular, às derivadas da ciência e tecnologia. Assim sendo, a FC é uma verdadeira biblioteca de imagens futuristas, depósito de esperanças, receios, projeções e conjecturas de homens e mulheres, cujo espírito de vanguarda acompanha e perscruta a condição evolutiva da humanidade. Conseqüentemente, é um campo inestimável de treinamento para seus leitores, na antecipação e criação de fatos que estão por vir.
Comungando com essa idéia, em entrevista cedida ao jornalista Wilson H. da Silva para a revista ‘Livro Aberto’, o professor de física da PUC-SP Pierluigi Piazzi, que ministra a disciplina de cibernética em cursos de Pós-Graduação, afirma que: “a ficção científica é uma ferramenta pedagógica poderosíssima e minha esperança é que a escola descubra a ficção como esta ferramenta, para preparar, inclusive, as pessoas para um futuro imprevisível, oferecendo todas as opções especulativas que existem.” Outra professora em consonância de opinião ressalta que os filmes cinematográficos em sua natureza eminentemente pedagógica são o maior interesse para o campo educacional e destaca que os filmes de FC tem um lugar especial na educação.
Neste contexto, pode-se afirmar, sem muito exagero, que não se trata da legitimidade da FC como força cultural e social que está em discussão, mas a legitimidade da própria escolarização. Apesar de os autores e estudiosos de FC reagirem com certa frustração por sua preferência literária não constar nas listas indicadas nas escolas, a esta altura, parece que as escolas é que estão precisando mais da FC do que ela precisa de sua validação escolar. Legitimarem o status pedagógico da FC perante a comunidade acadêmica, através de seu emprego na educação, não é meramente desejo pessoal dos escritores e professores admiradores do gênero. Mais do que isso é motivado pelo espírito de renovação educacional, que estes docentes, em crescente número, já contemplam as vantagens de sua possível inclusão em seus conteúdos programáticos, ou já a utilizam, eficazmente, em suas turmas.
Em termos de criatividade escolar, portanto, reitera-se aqui que a imaginação, ferramenta responsável pela criação, é um dos muitos olhares diferenciados da realidade que permitem ao estudante explorar a criatividade em sua vida.
Citando Siclier e Labarthe, finalizamos este artigo com uma advertência digna de nota, como incentivo à busca essencial da FC:
(...) o cinema de ficção científica não sobreviverá, se não tomar consciência de algumas evidências: que, antes de mais nada, é o veículo de novas formas de pensar; e que, como tal, é principalmente um instrumento abstrato comparável às matemáticas tradicionais, e que deverá evitar as ilustrações pseudo-realistas, se pretende valorizar com rigor uma geometria inédita baseada sobre postulados modernos.
A Ficção Científica e sua aplicação na Educação
Um instrumento auxiliador para o professor
Resumo
Este artigo mostra que a Ficção Científica de forma literária e fílmica pode auxiliar a educação como apoio didático pedagógico, estimulando no aluno a imaginação e a criatividade. Abordam-se livros e filmes que apresentam exemplos relacionados aos conteúdos específicos de várias disciplinas. A tentativa de abandono de preconceitos culturais considerando a variedade de padrões sociais pode também ser alcançada pelo uso da FC. O confronto com questões éticas, morais e inimagináveis encontradas no cotidiano podem trazer questionamentos e reflexões relevantes em sala. Procurar imaginar soluções para situações curiosas levantadas por um filme, professor ou pelo próprio aluno auxilia no desenvolvimento intelectual, ampliando horizontes.
Palavras-chave: Ficção científica, filmes, material didático
Science Fiction and its application in Education
A helpful tool for the teacher
Abstract
This article shows that Science fiction both in literature and in cinema may help the educational process as a didactical and pedagogical support, fostering the student’s imagination and creativity. Books and movies which present examples related to specific contents of various subjects are approached. The attempt of abandonment of cultural prejudices taking into consideration the variety of social standards may also be achieved by the use of Science fiction. The confrontation of ethical, moral and unimaginable issues found in everyday life may arise relevant questions and reflections in classroom. The attempt of imagining curious solutions arisen by a movie, teacher or the student himself helps the intellectual development, broadening horizons.
Keywords: Science fiction, movies, pedagogic material.
FONTE: http://www.jornadanasestrelas.com/index.php?pag=noticia&id_noticia=83&id_menu=174 (CONSULTADO EM 09/11/08)
Um instrumento auxiliador para o professor
Carlos Alberto Machado
Doutorando em educação pela PUCRio
cipexbr@yahoo.com
Em 1926, um luxemburguês radicado nos EUA, Hugo Gernsback, criou o termo ficção científica (sempre que nos referirmos a ficção científica usaremos a sigla FC) para classificar o tipo de histórias que ele se dispunha a publicar, exclusivamente, numa revista que estava lançando “Amazing Stories” (Histórias Assombrosas). A iniciativa de Gernsback estimulou autores jovens e popularizou o gênero junto ao público.
Em termos de narrativas populares envolventes e apelo de massa como o emblemático filme Blade Runner e Mad Max, verdadeiros divisor0es de águas no cinema, a FC também oferece épicos como ‘Ilíada’ e ‘Odisséia’ cujo conteúdo temático espelha-se nas space operas – termo utilizado pelos autores do gênero para designar livros ou filmes contendo sagas históricas, Impérios galácticos, etc. –, cujas mitologias religiosas e narrativas heróicas em geral têm catalisado gerações entre o grande público, seguindo uma fórmula aqui bem definida pelo escritor Bráulio Tavares:
(...) uma narrativa popular tem que envolver o leitor – ou telespectador (sic), através de descrições vívidas, ação intensa e estruturas com as quais ele se identifique facilmente.
Outro exemplo emblemático do apelo popular da FC, encontramos na literatura, na qual temos a cultuada trilogia ‘Fundação’ de Isaac Asimov. Também no cinema, encontramos a mitológica saga de ‘Guerra nas Estrelas’ – ‘Star Wars’, mobilizando massas de aficcionados. Este tipo de literatura ou filme, apesar de, muitas vezes, estar longe da ciência formal ou de seus preceitos, atrai em demasia a curiosidade dos jovens em geral.
Quanto a legitimidade educacional de sua busca científica, Tavares (1986) lembra-nos que a FC se utiliza muito da matéria-prima da ciência, mas manipula seus instrumentos, resultando em um compromisso com a imaginação e a fantasia. Sabe-se, atualmente, que a verdade científica não é definitiva, e a própria ciência cartesiana já a modificou com o passar do tempo, inúmeras vezes. A verdade de um século não é, necessariamente, a mesma de outro, e a mesma ciência de hoje já não é mais sinônimo de verdade absoluta. Dentro de sua visão de causa e efeito, não explica mais a complexidade do universo moderno percebido e sempre irá esbarrar nos limites impostos pelo pensamento racional. Portanto, o discurso ficcional da FC, caracterizado pela extrapolação da imaginação científica, vem para manipular a matéria-prima do pensamento lógico-formal e estimular a busca de novos parâmetros para o pensamento científico.
Por outro lado a “(...) ficção científica tem recursos inesgotáveis, demonstrando uma infinita confiança nos recursos da imaginação humana.”
Heróis, ação e aventura não faltam nas space-operas para aqueles que se identificam com suas personalidades. Como estímulo à busca de novas respostas, um de seus recursos temáticos é o confronto diante do conhecido e do desconhecido, o qual cria uma tensão dinâmica e permanente para o herói e para o leitor. Algumas dessas circunstâncias de desafio forçam o leitor e os personagens “(...) a se depararem com situações ‘além da imaginação’, nas quais ele é obrigado a identificar, prever e controlar fenômenos inexplicáveis – mais ou menos a situação do cientista diante de um problema de laboratório.”
O filme sempre foi um instrumento poderoso para ser utilizado em sala de aula. Mas sua utilização acaba sendo abandonada muitas vezes por falta de tempo: como a duração dos filmes feitos para o cinema é longa, privilegiam-se, primordialmente, os conteúdos escolares que devem ser trabalhados. Exibir um filme com duração de aproximadamente duas horas, realmente, toma muito tempo do professor. Entretanto, propomos que a escola continue utilizando esse recurso tão necessário em nossos dias.
O vídeo (DVD) e a televisão não devem ficar abandonados em um armário da escola. Também é discutível utilizá-los apenas para exibir documentários educativos que, para os estudantes, acabam sendo monótonos e cansativos. Eles apreciam, em demasia, filmes e desenhos de ficção científica. Então, por que não lançarmos mão desse gênero cinematográfico que atravessa a história cultural de várias gerações, que já está integrado à vida de nossos alunos?
Muito se tem falado, também, da distância prática entre a proposta educacional da escola e o mundo real vivido pelo educando. Essa distância fica mais evidente ainda, quando determinado currículo aborda, por exemplo, disciplinas que exigem conhecimentos técnicos, como a Física, mas cuja vivência e observação de certos fenômenos é uma realidade remota, somente possível de ser experienciada pelos educandos através de livros, filmes de televisão ou cinema, quando são abordados assuntos tais como: Sistemas Solares, Laser; Computadores; Distâncias Interplanetárias, Teorias sobre a Velocidade da Luz, Viagens no Tempo, Antigravidade; Robôs e Andróides, Cérebro Positrônico, Scanners Portáteis (tricorders); especulações sobre Antimatéria, Velocidade de Dobra, Buracos Negros ou Buracos de Vermes; Miniaturizações, Dimensões Paralelas, Transmissores de Matéria; Invisibilidade, Imortalidade, Telepatia e muitos outros. Temas esses, geralmente utilizados na FC ou na ciência imaginária: “A ciência imaginária não só é justificada por sua importância para o enredo de uma história de FC, como pelo seu aspecto profético ou de antecipação.(...) Alguns destes elementos são inviáveis e obviamente fantásticos, outros são possíveis e mesmo previsíveis.” No que tange a essa viabilidade profética da FC, Fausto Cunha também nos chama a atenção para este importante aspecto da legitimidade de sua busca científica:
Alguns temas que antigamente eram de domínio da pura fantasia, como os foguetes teleguiados, os transplantes de órgãos, os satélites artificiais, as técnicas de conservação pelo frio (o velho sonho da animação suspensa) e especialmente, para nossa infelicidade, as bombas nucleares, são hoje realidades com as quais temos que conviver. A elas se juntam outras antecipações convertidas em ameaças, como a poluição atmosférica, e envenenamento dos rios e dos mares, o fim do verde, a superpopulação, a fome, as novas doenças. Em suma a morte da Terra.
Na sala de aula, o docente geralmente prende-se a esquemas, fórmulas e problemas teóricos que fogem à realidade animada, disponível em literatura ou filmes do gênero. A esse respeito, David Allen, em sua obra ‘No Mundo da Ficção Científica’ observa: “Desse modo, o campo da FC inclui várias obras que utilizam os dispositivos da FC para examinar questões, idéias, e temas de uma perspectiva diferente da que está comumente disponível para nós, a partir de outros tipos de ficção e em nossa vida diária.”
Similarmente, os recursos tecnológicos utilizados pela FC na literatura, no cinema ou nas histórias em quadrinhos (HQs) - que os jovens também apreciam em demasia -, podem facilitar ao docente o ensino ilustrativo de uma matéria específica. Mas, para isso, faz-se necessário que este também tenha algum interesse pelo tema em questão, e que esteja atualizado, constantemente, com as últimas descobertas científicas pertinentes à sua área de conhecimento; bem como, com filmes, livros e revistas em quadrinhos sobre ficção científica, seja através de bibliotecas, bancas de revistas, cinema, televisão ou locadoras de filmes de sua cidade. Alguns professores podem preferir (e isso também vale para os educandos) comparecer com sua turma de alunos ao próprio cinema para, juntos, poderem assistir a um determinado filme pré-selecionado, com a finalidade de, em seguida, discutirem em sala de aula os conteúdos apresentados em forma de relatórios, mesas redondas ou outro recurso didático disponível. Aspectos sociais, filosóficos, tecnológicos, éticos, biológicos, antropológicos, matemáticos, lingüísticos, físicos, astronômicos, químicos, estéticos, etc., são apenas alguns aspectos que podem ser extraídos, analisados ou dissecados pelo educando. Conteúdos esses, devida e respectivamente, orientados pelo docente, relacionando-os à sua disciplina, facilitando assim a aprendizagem. Como afirma Clarke: “Uma pessoa que conheça tudo sobre as comédias de Aristófanes e nada sobre a Segunda Lei da Termodinâmica é tão inculta como aquela que dominou a teoria quântica, mas pensa que Van Gogh pintou a Capela Sistina.”
Outros professores podem sugerir que o próprio aluno selecione o filme de FC desejado, desde que, obviamente, o mesmo já seja antecipadamente conhecido pelo referido professor, para que este elabore os devidos paralelos com conteúdos programáticos.
As escolas podem perfeitamente se tornar locais singulares, como mundos próprios nos quais cyborgs geracionalmente diferentes se encontram e trocam narrativas sobre suas viagens na tecno-realidade – desde que nós nos permitamos reimaginá-los e reconstruí-los de uma forma inteiramente nova, em negociação com aqueles que um dia tomarão nosso lugar.
A primazia e a riqueza de conteúdo chegou a tal ponto que, até os cursos universitários vêm utilizando a ficção científica em suas disciplinas, como evidenciado em minha dissertação de mestrado. Menosprezar um gênero que já trabalhou uma versão espacial Shakespeareana como ‘O Planeta Proibido’, é menosprezar o conhecimento.
A estética da arte e os cursos de comunicação já analisam os filmes cinematográficos e televisivos desde sua criação em meados de 1920. Entre muitos exemplos podemos citar ‘Metrópolis’ de Fritz Lang, ‘Skanner: sua mente pode destruir’ e ‘Vídeo Drome’, ambos de David Cronemberger. Discussões políticas podem ser realizadas com ‘Dr. Fantástico’, ‘O Dia em que a Terra Parou’ e ‘Star Trek’ - Jornada nas Estrelas’, neste último analisando a Federação dos Planetas Unidos, órgão federativo que tenta promover a paz na Galáxia. Cabe às diferentes áreas do conhecimento também descobrirem a importância desses filmes como recurso pedagógico.
Professores de História sempre utilizaram filmes de época ou filmes de guerra, para discutir seus conteúdos (com primazia e didatismo). O mesmo vale para os professores de Geografia que têm no cinema um rico instrumento didático. Conhecer o mundo através da tela em nossos dias é mais fácil do que viajar e conhecê-lo pessoalmente.
Professores de inglês aproveitam a língua inglesa encontrada nos filmes atuais, simplesmente desligando o recurso de legenda, no caso dos DVDs, ou ocultando a parte inferior da televisão, no caso das fitas de vídeo, para trabalhar a pronúncia correta.
Albert Einstein costumava dizer que a imaginação é mais importante do que o conhecimento. Ela estimula a criatividade e, por conseguinte, auxilia na solução de problemas. Ora, a imaginação que utilizamos na criação de invenções, nas novas descobertas, na pesquisa científica e na solução de problemas é a mesma que nos permite escrever contos, criar roteiros, imaginar futuros que estão por vir. Alguns autores de ficção científica chegam a imaginar nossa história de forma diferente e para isso é necessário um exercício soberbo. Mundos alternativos onde verificamos como o mundo poderia ter sido se…Hitler não tivesse perdido a guerra; se o primeiro Presidente dos Estados Unidos da América fosse uma mulher; se os cientistas fossem venerados como as estrelas do Rock e por ai vai. Esses exemplos podem ser verificados literalmente nos episódios da série de FC ‘Sliders’ de Tracy Torme e Robert K. Weiss.
Sempre que falamos em trabalhar ficção científica em sala de aula logo vem a imagem de seu uso na disciplina de física e naturalmente ela teria um número muito maior de alternativas de uso em relação a seus conteúdos. Lamentavelmente alguns professores a utilizam apenas como exemplos negativos e deixam de lado bons exemplos. As séries de ‘Star Trek’ – ‘Jornada nas Estrelas’ são o melhor exemplo de vários conceitos corretos da física, da holografia, da astronomia e da cosmologia. Certamente alguns não procedem, como sons no espaço, teletransporte de matéria, viagens no tempo, mas que, ainda assim, podem ser discutidos pelo professor.
Um bom livro para professores de física que se interessem em utilizar a ficção científica em suas salas de aula é: ‘A Física de Jornada nas Estrelas’ . Ele discute todos os conceitos encontrados nos filmes e nas séries televisivas de ‘Star Trek’.
Ainda dentro dos exemplos de física, podemos citar alguns filmes feitos para o cinema: ‘A.I. Inteligência Artificial’, ‘2001: Uma Odisséia no Espaço’ e ‘2010: O Ano em que faremos Contato’, ‘Apollo 13’, ‘Contato’, ‘O Planeta Vermelho’, ‘Missão Marte’ etc.
Mas não é apenas a física que pode enriquecer-se com esse gênero cinematográfico e televisivo. A filosofia também encontra seus conceitos por aqui. Já existem várias obras especializadas que o demonstram. Os livros: ‘A Metafísica de Jornada nas Estrelas’ , da editora Makron Books, ‘Matrix: bem- vindo ao deserto do real’ , ‘A Pílula Vermelha: Questões de Ciência, Filosofia e Religião em Matrix’ , e o mais recente ‘Scifi=scifilo: a filosofia explicada pelos filmes de ficção científica’ , são alguns belos exemplos do que explanamos. Conceitos que vão além da Caverna de Platão, como a morte, a vida, realidade, ética, identidade, livre-arbítrio, moralidade, metafísica, onisciência, determinismo, entre outros. Mas os professores de filosofia descobriram uma outra ótima saída para despertar a curiosidade dos adolescentes, também seus alunos. O mercado editorial brasileiro, através da editora Madras, recheou as prateleiras com livros versando sobre filosofia e séries de televisão: ‘A filosofia de Bufy’, ‘A filosofia de Harry Potter’, ‘A filosofia de Senfield’ e a ‘filosofia de Sipsons’ são alguns que foram lançados até o momento.
Entre os filmes que trazem questões filosóficas bastante instigantes destacamos a trilogia de ‘Matrix’, ‘Gattaca: A Experiência Genética’, ‘O Exterminador do Futuro 1 e 2’, ‘Minority Report: A Nova Lei’, ‘Independance Day’, ‘Alien’, ‘Blade Runner, o Caçador de Andróides’, ‘Star Wars’, ‘O Sexto Dia’, ‘O Homem sem Sombra’, ‘Frankenstein’, entre muitos outros.
Professores de Biologia vêm trabalhando com filmes de ficção científica há algum tempo, pois eles trazem conceitos e questões relacionadas a essa área que podem ser analisados e discutidos em classe. Alguns exemplos são: ‘Viajem Fantástica’, ‘Gattaca: A Experiência Genética’, ‘A Corrida Silenciosa’ (o preferido dos professores da área), ‘Waterworld: o Segredo das Águas’, ‘Aquaria’, ‘O dia Depois de Amanhã’, ‘O Dia Seguinte’, ‘Missão Marte’, ‘O Planeta Vermelho’, ‘O Segredo do Abismo’, ‘Jornada nas Estrelas IV - A volta para casa’, ‘Duna’ e a abertura fantástica de ‘X-Man: o filme’, bem como seu conteúdo, para discutir mutação. Vida, genética, bio-ética, demografia, sobrevivência, ecologia, biodiversidade entre outros, são apenas alguns exemplos do que pode ser debatido em sala de aula a partir da visulização desses filmes. Um livro que pode dar suporte a essa relação biologia/cinema é ‘A Ciência de Star Wars’ .
A Psicologia, consciência e inconsciência, o eu, ego e outros tantos conceitos-chave das teorias freudiana, jungiana e lacaniana também podem ser identificados no conteúdo de filmes como ‘Esfera’, ‘Solaris’ (de Andrei Tarkovski), ‘Gattaca: A Experiência Genética’, a trilogia de ‘Matrix’, ‘Enigma do Horizonte’, ‘Q-Pax’, ‘O Vingador do Futuro’, ‘Laranja Mecânica’, ‘O Segredo do Abismo’. Um exemplo mais recente é o filme ‘O Diário do Mochileiro das Galáxias’, onde pode ser encontrado um robô maníaco-depressivo, portas que gemem ao serem abertas ou fechadas, um rei da galáxia que tem um ego gigantesco, uma arma que ao ser apontada para alguém o induz a dizer a verdade (mesmo oculta). A burocracia e o tédio são notavelmente escrachados denotando uma realidade pós-moderna bem ao estilo Monty Python.
De certa forma o exercício da exploração de potenciais futuros é um dos principais objetivos disciplinares da FC na educação. Vivemos em uma sociedade atribulada com mudanças sociais rápidas, as quais nos forçam a olhar para o futuro. Essa busca futurística deve ser uma função básica e contínua no campo da educação. Se levarmos em conta o princípio de que os educandos devem estar preparados para um mundo em que uma iminente diversidade embrionária de novos estilos de vida, valores e sistemas sociais concorrerão para coexistir, então, a educação deve necessariamente expandir seu domínio disciplinar para o campo da projeção futurística também, a fim de poder abarcar o exame do que é possível no potencial do desenvolvimento humano.
Naturalmente, a FC também é um importante instrumento didático para se dar a conhecer aos estudantes futuros alternativos. Essa literatura vem, há pelo menos um século, discorrendo sobre temas pertinentes às transformações incipientes da sociedade humana em seus aspectos sócio-psicológicos, antropológicos e, em particular, às derivadas da ciência e tecnologia. Assim sendo, a FC é uma verdadeira biblioteca de imagens futuristas, depósito de esperanças, receios, projeções e conjecturas de homens e mulheres, cujo espírito de vanguarda acompanha e perscruta a condição evolutiva da humanidade. Conseqüentemente, é um campo inestimável de treinamento para seus leitores, na antecipação e criação de fatos que estão por vir.
Comungando com essa idéia, em entrevista cedida ao jornalista Wilson H. da Silva para a revista ‘Livro Aberto’, o professor de física da PUC-SP Pierluigi Piazzi, que ministra a disciplina de cibernética em cursos de Pós-Graduação, afirma que: “a ficção científica é uma ferramenta pedagógica poderosíssima e minha esperança é que a escola descubra a ficção como esta ferramenta, para preparar, inclusive, as pessoas para um futuro imprevisível, oferecendo todas as opções especulativas que existem.” Outra professora em consonância de opinião ressalta que os filmes cinematográficos em sua natureza eminentemente pedagógica são o maior interesse para o campo educacional e destaca que os filmes de FC tem um lugar especial na educação.
Neste contexto, pode-se afirmar, sem muito exagero, que não se trata da legitimidade da FC como força cultural e social que está em discussão, mas a legitimidade da própria escolarização. Apesar de os autores e estudiosos de FC reagirem com certa frustração por sua preferência literária não constar nas listas indicadas nas escolas, a esta altura, parece que as escolas é que estão precisando mais da FC do que ela precisa de sua validação escolar. Legitimarem o status pedagógico da FC perante a comunidade acadêmica, através de seu emprego na educação, não é meramente desejo pessoal dos escritores e professores admiradores do gênero. Mais do que isso é motivado pelo espírito de renovação educacional, que estes docentes, em crescente número, já contemplam as vantagens de sua possível inclusão em seus conteúdos programáticos, ou já a utilizam, eficazmente, em suas turmas.
Em termos de criatividade escolar, portanto, reitera-se aqui que a imaginação, ferramenta responsável pela criação, é um dos muitos olhares diferenciados da realidade que permitem ao estudante explorar a criatividade em sua vida.
Citando Siclier e Labarthe, finalizamos este artigo com uma advertência digna de nota, como incentivo à busca essencial da FC:
(...) o cinema de ficção científica não sobreviverá, se não tomar consciência de algumas evidências: que, antes de mais nada, é o veículo de novas formas de pensar; e que, como tal, é principalmente um instrumento abstrato comparável às matemáticas tradicionais, e que deverá evitar as ilustrações pseudo-realistas, se pretende valorizar com rigor uma geometria inédita baseada sobre postulados modernos.
A Ficção Científica e sua aplicação na Educação
Um instrumento auxiliador para o professor
Resumo
Este artigo mostra que a Ficção Científica de forma literária e fílmica pode auxiliar a educação como apoio didático pedagógico, estimulando no aluno a imaginação e a criatividade. Abordam-se livros e filmes que apresentam exemplos relacionados aos conteúdos específicos de várias disciplinas. A tentativa de abandono de preconceitos culturais considerando a variedade de padrões sociais pode também ser alcançada pelo uso da FC. O confronto com questões éticas, morais e inimagináveis encontradas no cotidiano podem trazer questionamentos e reflexões relevantes em sala. Procurar imaginar soluções para situações curiosas levantadas por um filme, professor ou pelo próprio aluno auxilia no desenvolvimento intelectual, ampliando horizontes.
Palavras-chave: Ficção científica, filmes, material didático
Science Fiction and its application in Education
A helpful tool for the teacher
Abstract
This article shows that Science fiction both in literature and in cinema may help the educational process as a didactical and pedagogical support, fostering the student’s imagination and creativity. Books and movies which present examples related to specific contents of various subjects are approached. The attempt of abandonment of cultural prejudices taking into consideration the variety of social standards may also be achieved by the use of Science fiction. The confrontation of ethical, moral and unimaginable issues found in everyday life may arise relevant questions and reflections in classroom. The attempt of imagining curious solutions arisen by a movie, teacher or the student himself helps the intellectual development, broadening horizons.
Keywords: Science fiction, movies, pedagogic material.
FONTE: http://www.jornadanasestrelas.com/index.php?pag=noticia&id_noticia=83&id_menu=174 (CONSULTADO EM 09/11/08)
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quinta-feira, 1 de maio de 2008
O que era Ficção
ARMAZÉM LITERÁRIO
Autores, idéias e tudo o que cabe num livro
E-BOOKS
Marcel Plasse
"Indústria editorial aposta tudo nos e-books", copyright O Estado de S. Paulo, 31/01/01
"Imagine um mundo sem livros. Não uma ficção científica sobre um mundo sem livros, como Farenheit 451, de Ray Bradbury, que François Truffaut transformou em clássico cinematográfico nos anos 60. Microsoft, Adobe e Xerox estão ajudando a criar esse futuro. E tem o apoio de editoras renomadas, como Barnes & Noble, Penguin Putnam, Simon & Schuster, St.
Martin's Press, Warner Books e Harlequin.
Bem-vindo ao século do e-book. Embora o primeiro aparelho de leitura de livro eletrônico tenha sido lançado em 1998, a indústria editorial resolveu apostar, na virada do milênio, que o formato vai substituir o livro de papel em duas décadas. Entusiasmada, já criou quatro prêmios específicos para a produção literária voltada ao meio - The Electronic Literature Awards, Frankfurt E-Book Award, os Eppies e o Independent E-book Awards.
Muito desse entusiasmo foi alimentado pelo hype em torno de Stephen King, que se transformou em garoto-propaganda da literatura na Internet ao decidir publicar um livro diretamente na Web, sem intermediação de uma editora. Naif diante da atual investida do mercado, a idéia de King era vender capítulo por capítulo, escrevendo enquanto os fãs continuassem a pagar pela leitura.
No entanto, quase 50% dos fãs que pagaram pelo primeiro episódio desistiram do livro antes do capítulo seis. No sétimo, King deixou o restante do público, que desembolsou US$ 7 para ler o início de The Plant, sem saber como a história termina. Aconselhado por seu agente, o escritor interrompeu a produção da obra para se dedicar a trabalhos mais lucrativos - três livros para editoras tradicionais.
A ironia é que King, ao lançar-se na experiência amplamente divulgada pela mídia, brincou que talvez The Plant se tornasse o pior pesadelo do mercado editorial. E, realmente, a iniciativa criou o receio de que, caso bem-sucedida, fizesse outros escritores best sellers perceberem como poderiam ganhar dinheiro sem a intermediação das editoras. A realidade, porém, é que King entusiasmou poucos escritores, a maioria independentes, a publicar na Web por conta própria. O mundo sem livros não deverá ser, nos prognósticos da indústria de entretenimento, um mundo sem editoras.
Engenhocas - O hype, de todo modo, inspirou iniciativas de autores em todo o planeta. No Brasil, o colunista do Estado Mario Prata foi pioneiro, ao escrever na Web o romance Os Anjos de Badaró, que será publicado pela Editora Objetiva. Mas o livro eletrônico que o mercado celebra, aposta e investe não brilhará na Web. Graças à convergência de interesses entre fabricantes de hardware, software e grandes editoras, a literatura do futuro só usará a Internet como meio de distribuição (download). Livros já estão sendo baixados de sites diretamente para novas engenhocas de leitura digital. Esses aparelhos é que são os e-books autênticos.
Há um consenso não declarado de que o computador nunca se tornará um lugar adequado para a leitura de livros, mesmo que eles tenham sido produzidos para a Internet. Isto se deve ao costume dos leitores de ler em qualquer lugar, seja na praia seja no transporte público. O advento dos PDAs e PocketPCs introduziu o conceito dos computadores com o tamanho de livros, que podem ser levados para toda a parte. Daí para o e-book, bastou uma idéia.
Com a tecnologia então existente, a empresa norte-americana Nuovomedia lançou o seu Rocket E-Book há dois anos, por US$ 200 a unidade. O que parecia idéia de loucos - minicomputadores apenas para leitura - chamou a atenção de capitalistas da era Nasdaq. E, hoje, os sucedâneos do REB original chegam a custar US$ 700, atraindo interesse de grandes empresas de software e do mercado editorial. Resultado: os ainda antiquados e-books do século 20 fecharam o ano com 40 mil unidades vendidas. Nada mal para um produto que até recentemente era ficção científica da série Jornada nas Estrelas.
O Natal de 2000 nos EUA demonstrou o ímpeto com que os e-books serão marqueteados ao longo do ano-novo. Em primeiro lugar, a oferta de títulos disponíveis para download revelou uma estratégia de privilegiar best sellers - títulos de Stephen King lideraram as listas de ofertas, ao lado de publicações de Ken Folett, Robert Ludlum, Patricia Cornwell, Joyce Maynard, Michael Cunningham, Hemingway e a Bíblia. Detalhe: Ridding the Bullet, de Stephen King, vendeu 400 mil cópias pela Internet.
Se o mercado para autores consagrados parece promissor, novos autores estão se aproveitando da nova tecnologia para atingir o grande público. Um dos casos célebres é o de Douglas Clegg, ganhador dos troféus Bram Stocker e International Horror Guild, que costumava vender 20 mil cópias de seus livros nos EUA até descobrir o poder da Web. Seu mais recente livro, Purity, está sendo oferecido de graça para os fãs baixarem na rede. Purity chegou a ser vendido pelos meios convencionais. A edição em capa dura, disponível a US$ 30 o exemplar, esgotou em uma semana. É que, depois de começar a oferecer contos e romances pela Internet, Clegg virou um campeão de vendas, alcançando a média de 100 mil exemplares por livro publicado.
As festas de fim de ano também viram chegar às lojas maior variedade de aparelhos para baixar e ler livros da Internet - com baterias de até 40 horas de duração e capacidade de armazenamento de 4 mil páginas. O consumidor já pode optar por versões sofisticadas ou básicas. Os principais produtos no mercado norte-americano são sucedâneos do REB original, atualmente lançados pela Gemstar e fabricados pela RCA. O preço desses e-books varia entre US$ 290 e US$ 699, tendo como diferença apenas o brilho da tela. Numa manobra para dominar o mercado, a Gemstar fechou pacotes de download com as principais editoras dos EUA, concentrando-se em best sellers, o que desagradou profundamente aos novos autores e às pequenas editoras.
O inconveniente, por esses acordos, é que os livros seriam baixados pelo mesmo preço de suas edições de capa dura. Quer dizer, além de pagar caro pelo aparelho em si, o usuário terá de pagar o mesmo que um livro normal pelo direito de lê-lo no seu e-book. O negócio agrada às editoras, que dispensariam as gráficas e aumentariam suas margens de lucro. Mas dificilmente se tornará popular, mantidos esses preços.
Por outro lado, acaba de ser lançado pela Franklin Electronic Publishers o novo eBookman, um aparelho que está sendo vendido a US$ 130 e tem a vantagem extra de possuir capacidade multimídia. Além de permitir leitura de livros eletrônicos, o eBookman, que tem conexão direta com a Internet, baixa Mp3 e armazena bookmarks, mas é menor que os REBs e pior de ler.
Em fevereiro, a França também ganhará um e-book, batizado de Cybook, que terá o tamanho de um paperback e custará o equivalente a US$ 780.
Os diversos lançamentos representam a maior competição, o que, na lei da oferta e da procura, significa uma inevitável queda de preços antes mesmo do próximo Natal. Mas a principal novidade de 2001 estará nas mãos dos fabricantes de software. Por enquanto, os e-books amargam um atraso tecnológico que outras áreas da computação superaram há uma década. Para começar, sua tela esverdeada com letras escuras é péssima para leitura. Como um e-book pode ser ruim de ler? Problemão, que novos softwares da Microsoft, Adobe e Xerox pretendem resolver. Microsoft Reader e Adobe PDF Merchant são os primeiros programas desenvolvidos especialmente para facilitar a leitura de livros em aparelhos compactos. A Xerox, por sua vez, elabora um software para proteger a distribuição e os direitos autorais dos livros eletrônicos, o ContentGuard.
Desafio - O grande desafio dos próximos meses será dar aos e-books a desenvoltura da Web, com a possibilidade de se realizar pesquisas por palavra-chave, alterar a fonte do texto e seu tamanho, além de acrescentar links de hipertexto na leitura, coisas corriqueiras em qualquer browser da Web. Nada disso representa dificuldade intransponível para a indústria eletrônica. Na verdade, já tem gente contando os dias para ver a nova geração de e-books chegar às lojas e livrarias. E já se fala em e-magazines, as revistas que poderão ser baixadas e lidas na nova geração de e-books - lá por 2004, quando os experts estimam que esse negócio movimentará US$ 500 milhões em direitos autorais.
Retrato do otimismo com que o mercado editorial encara o novo filão, a editora norte-americana Rosettabooks prepara sua estréia sem nem ao menos um título original em seu catálogo. Em compensação, adquiriu o direito de publicação eletrônica de cerca de cem clássicos, entre eles Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, A Escolha de Sofia, de William Styron, e O Príncipe das Marés, de Pat Conroy. Outros 500 títulos encontram-se em diferentes estágios de negociação. O que faz dela uma editora que já dispensa gráficas e papel para publicar livros.
O Brasil também entrou na tendência. A iEditora, fundada em abril, registrou durante o ano passado 19 mil downloads de livros em seu site - de um total de 400 títulos, entre eles publicações da Nobel e Melhoramentos. Esses números são impressionantes, especialmente porque os e-books ainda não são vendidos no País."
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/al070220018.htm (01/05/08)
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