domingo, 9 de novembro de 2008

SONHO COLETIVO

POR: Carlos Alberto Machado

Tudo começou quando um ex-fuzileiro naval e produtor de faroestes para a TV apresentou aos executivos da Paramount uma proposta para uma nova série, que ele conseguiu vender dizendo que seria algo assim como “A Conquista do Oeste” no espaço.
O nome deste sonhador era Gene Rodenberry, e a sua idéia não tinha nada a ver com caravanas e índios, mas era a época da Corrida Espacial, e o tema parecia evocar uma nova fronteira para o povo norte-americano, isso convenceu os executivos do estúdio e veio a permissão para ir frente. No fim, só a idéia da Fronteira Final se tornaria parte da série Jornada nas Estrelas, Star Trek, que estreou na TV americana em Setembro de 1966, chocando a complacência e o conservadorismo do público norte-americano ao mostrar um mundo futuro sem preconceitos, onde a humanidade havia finalmente superado a sua infância.
Enquanto a nossa realidade se via envolta na Guerra-Fria entre o mundo capitalista e o comunista, no mundo descrito por Gene Rodenberry pessoas de todas as nacionalidades trabalhavam juntas em uma sociedade onde não havia mais conflitos ideológicos e o dinheiro havia sido abolido. Enquanto as lutas raciais dominavam as ruas dos Estados Unidos e as mulheres eram cidadãs de 2a. classe, na nave Enterprise uma mulher de cor, em vez de escrava ou empregada doméstica, aparecia como oficial da ponte de comando e engenheira de comunicações. E enquanto, mesmo em outros trabalhos de ficção científica, os alienígenas simbolizavam o terror do desconhecido, do outro que era também o diferente, tanto na nacionalidade como até nas preferências sexuais, a Federação Unida dos Planetas imaginada por Rodemberry era uma união que se distinguia justamente por se dar entre os diferentes, anunciando a possibilidade da convivência e da tolerância como normas e não exceções.
Depois da primeira temporada, os Estúdios Paramount resolveram cancelar a série, considerando a audiência insuficiente, mas um fenômeno nunca visto impediu isso: milhares e milhares de cartas chegaram à Paramount Pictures, exigindo a continuação de Jornada nas Estrelas. Entre os que escreveram estavam cientistas e escritores célebres ou jovens adolescentes… todos eles eram “outros”, “diferentes” e também tolerantes, vivendo em um país onde estes costumam permanecer calados.
Graças a este esforço a chamada Série Clássica de Jornada nas Estrelas conseguiu durar 3 temporadas. Mas, depois que ela se encerrou, o seu público, que era muito maior do que se esperava, a fez continuar viva através de reprises que nunca deixavam de ter audiência, além de fã-clubes que surgiram por todos os lados e até em outros países.
Gene Rodenberry nunca deixou de lado a sua criação e, em meio ao sucesso de Guerra nas Estrelas, ele convenceu a Paramount a lhe dar mais uma chance.
Jornada nas Estrelas chegou ao cinema, rivalizando o sucesso da franquia recém-nascida de George Lucas e levando os executivos da Paramount a liberarem a verba para novos filmes e, a partir de 1987, para uma nova série de TV: Star Trek: the Next Generation (Jornada nas Estrelas, a Nova Geração).
Para a surpresa até dos fãs que, a princípio, ficaram reticentes com a nova série, seus personagens cresceram e seus roteiros foram se tornando cada vez melhores. Quando terminou o terceiro ano de produção, ninguém mais duvidava que a série iria continuar, em meio ao reconhecimento tanto no mundo da ficção científica como nos vários prêmios de melhor série, roteiro e até ator, este último para Patrick Stewart, um veterano shakespeariano que se tornou o Capitão Picard para os fãs… muito antes de virar o Prof. Xavier dos X-Man.
Depois de sete anos no ar, a Nova Geração daria lugar a mais outra três séries… Star Trek: Deep Space 9 (1993-99) também duraria 7 temporadas e sua sucessora, Star Trek: Voyager (1995-00) duraria 7 temporadas apenas a última série, Star Trek: Enterprise (2001-06), teve o cancelamento sumário sob a alegação de que os índices de audiência eram baixos tendo duração de apenas 4 anos.
Na verdade, o sucesso das séries de Jornada nas Estrelas, vinham do ideal de uma utopia fraterna, tolerante e bem sucedida… onde a diplomacia e o entendimento deviam valer mais do que a força e a ciência e a tecnologia deviam servir para instrumentalizar a humanidade, e não para torná-la menos humana e cada vez mais uma mera consumidora.
No ano passado a série Enterprise foi cancelada, justamente quando os fãs estavam se preparando para comemorar os 40 anos de Star Trek, que serão agora em setembro de 2006. Porém a Paramount já anunciou um novo filme com a tripulação da série Clássica, mas com um elenco totalmente novo sob a direção de J.J. Abrams (criador da série “Lost”). A idéia ainda não conquistou a todos, mas é um novo alento aos milhões de fãs desse sonho coletivo.

FONTE: http://www.jornadanasestrelas.com/index.php?pag=noticia&id_noticia=143&id_menu=174&conjunto=&id_usuario=¬icias=&id_loja= (EM 09/11/08)

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